Para falar dos sonhos de uma brasileira ilustre reproduzo aqui um artigo meu publicado no blog temas:
Vendo a pelicula sobre a doutora Nise da Silveira
e sabendo já de suas contribuições,relações com Jung e Freud(que ela
respeitava),me veio á mente ,de acordo o
artigo “petição de princípio” que eu publiquei no blog conhecimento,a questão
da “ cura”,como o limite ético do médico.
A cura era entendida pela psiquiatria tradicional
como o uso de meios quaisquer para ressocializar o paciente,mesmo a lobotomia
ou retirada de partes especificas do cérebro.
A pessoa,mutilada,objetalizada, não causava mais
problemas ao meio familiar e isto era tido como ressocialização e “
cura”,superação do problema.
As contribuições de Jung ,seguidas pela doutora
Nise demonstraram que o paciente não é identificado totalmente com a
doença,porque é impossível que a doença tome a pessoa totalmente,inclusive a
doença mental.
Os estudos sobre o incosnciente humanizaram a
sociedade,mostrando que porque o homem não controla a sua vida ela está sempre lá,ainda que sob
os maiores achaques.
Quando é possível,através de terapia
ocupacional,chegar a esta área aparentemente perdida,a humanidade do paciente
,um pouco da sua subjetividade retorna e o ajuda,mas cura ,no sentido absoluto
do termo não há e nos lembramos aqui dos artigos sobre Freud em que fica clara
a natural inadequação humana ,cujo reconhecimento é a condição de crescimento do sujeito.
O cientificismo psiquiátrico do século XIX tem a
seu favor o fato de que o médico deve ministrar uma cura ,não podendo se
omitir.Mas como disse certa vez o doutor
Dráuzio Varella,lembrando a tradição da medicina,o médico não cura o
paciente,mas minora o seu sofrimento.Quem cura é o pesquisador que descobre a
razão de ser da inciência da doença.É Robert Koch quem cura a tuberculose,o
médico a administra sempre procurando
menos dor para o seu atendido.
Num período de pouco conhecimento, estes elementos
éticos toscos eram chamados à baila para exigir uma certa postura dos
profissionais,o que mudou com Freu ,Jung e a doutora Nise da Silveira.
No entanto outros problemas éticos aparecem:então
o terapeuta não tem como curar o paciente?Minorar significa o
quê?Socializar?Acostumar-se à dor?Admitindo-se que cada paciente,com uma
biografia, pode ou não sair em alto grau de seu beco sem saída,não seria isto
transferir a responsabilidade da cura a
ele?Jung,e isto é retratado no filme
ressalta a falta de medo do paciente quanto ao seu inconsciente.Esta seria a
parcela de responsabilidade do terapeuta?Levá-lo a não ter medo?
Admitindo-se
a inadequação como inevitabilidade da existência humana e a diferença
entre as doenças mentais e as demais,o trabalho do terapeuta é como o de uma professora
que segura na mão do aluno e o ajuda a reconstruir e/ou reconstituir o seu
caminho,ou pelo menos,um sentido.
Em outra ocasião citando Heidegger eu disse que a
filosofia(e a razão)tinham um ponto
cego(que os nazistas de toda hora exploram):quem não tem sentido para a
vida,não é afetado por ela,qual o seu lugar?Há inúmeras inutilidades recorrentes
na história da humanidade que servem aos propósitos excludentes e destruidores
do poder.
O terapeuta neste caso adquire um papel
interdisciplinar,pois se torna um professor também,precisando reconhecer que
nem sempre a profissão,como a razão, podem ter únicas balizas e sólidas,porque
o homem não tem.
Se analisarmos o homem de Vitruvio:
E perguntarmos o que ele pode ser,chegaríamos a
uma enciclopédia infinitesimal.
A doutora Nise,bem como Freud e Jung(et al)superam
o passado cientificista na constatação óbvia(dos renascentistas pelo menos)de
que o homem ou qualquer atividade pode ser reduzida a um conceito profissional
fechado,porque tudo está no tempo e porque o homem(no tempo)não é redutível a
um discurso único.O psicólogo aqui é pedagogo e tal não fere a sua ética,como
pensa o psiquiatra.
Muitas críticas foram feitas a Freud neste
sentido,inclusive na URSS,taxando-o de aproveitador,de ganhar fama não
resolvendo o problema de seus pacientes.Tais coisas foram ditas sobre Einstein
,um suposto teórico sem comprovação.
Mas tudo isto é ignorar que as verdadeiras balizas
do homem é ele que as coloca ou descobre(desvela),como no filme de
Welles,baseado em “ O Processo” de Kafka,em que uma sentinela proibe a entrada
de uma pessoa num lugar que ela quer muito ver.Passa a vida tentando convencer
a sentinela a deixá-la entrar,mas sem conseguir.Quando está à beira da morte a
sentinela vai embora,mas a pessoa ,estupefata pergunta:agora que eu vou morrer
você sai desta porta?Ao que o outro responde:não existia porta ,nem
sentinela,ambos são criações suas.
Proximamente eu vou falar sobre o sentimento de
alegria que era tão importante para a doutora Nise.
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